Em 2013, milhões de pessoas foram às ruas contestar o aumento de vinte centavos nas passagens de ônibus. Primeiramente, estudantes e cidadãos convocados pelas redes sociais por organizações ciberativistas, como o Vem Pra Rua e o Movimento Brasil Livre. Após violenta repressão policial em uma das passeatas, os protestos ganharam força com a adesão de outros setores da sociedade, obtendo, ao fim das “Jornadas de Junho”, sucesso na maioria das reivindicações. Disso todos nós lembramos.
No ano seguinte, foi deflagrada a Operação Lava Jato, que desnudou os bastidores da política fisiologista nacional, colocando no mesmo balaio políticos de todos os matizes. De 2014 a 2016, foram inúmeras manifestações pelo país, puxadas ainda pelo sentimento vitorioso de 2013, inicialmente apoiando o combate à corrupção e, posteriormente, pleiteando o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Havia a impressão generalizada – finalmente! – de que as entranhas de nossa nação estavam contaminadas por seres sem escrúpulos, preocupados tão somente com o bem-estar de si mesmos e dos seus, de preferência, por várias gerações. A verdade é que escancarava-se o óbvio, presente em nossa História desde que os portugueses aqui chegaram com o epíteto de descobridores. Em algum momento, ainda em 2014, tornou-se hábito a exposição nos atos de nosso mais vistoso símbolo. A égide da bandeira dava-lhes a aura de amantes da pátria, e mais: opositores do governo de esquerda. O nosso sagrado manto verde e amarelo deixou de representar a maior nação do hemisfério sul para ser apenas o antônimo da bandeira vermelha, associada ao comunismo, socialismo e qualquer outro sistema político-econômico diferente do capitalismo neoliberal. Foi ali que eles se apropriaram da nossa bandeira.
Com a falsa premissa de que o PT inventou a roda e a corrupção, os apologistas do medo foram angariando novos adeptos, especialmente entre aqueles a quem têm ojeriza. Mas, para ganhar, vale tudo. Derrubaram Dilma, alçaram ao trono o hipotecado Temer, e prepararam o terreno para a nossa maior vergonha, cujo nome não ousarei escrever ou pronunciar, por mero respeito a nossa permanente alma penada. O fato é que nossa abananada República hoje é refém.
Todo esse triste enredo que estamos vivendo foi pavimentado com notícias falsas e slogans nacionalistas e radicais, além da idolatria ao tal homem de inteligência limitada e pavio curto. Alguém que fala em nome de Deus, do Brasil e da verdade, mas não conhece o amor e a História, e vive para enaltecer as mentiras. Um ser que prega a violência e o obscurantismo, jogando na mesma vala comum os 500 mil mortos da Covid-19, a Ciência, a Educação e as Artes.
É esse homem abjeto e seus seguidores programados que usurparam a nossa bandeira, nosso símbolo maior. Hoje, consideram-se os donos exclusivos de uma nação onde não cabe a diferença. Desfilam seus carrões em indecorosas carreatas, em desarrazoadas aglomerações para exigir o fim da Democracia. Antes de combater essas pessoas, devemos combater as ideias repulsivas que trazem impressas na pele, quase sempre branca. Infelizmente, passamos a associar esse tipo de pensamento retrógrado às cores da bandeira, nos envergonhamos – nós, setenta por cento! – de usar o verde e o amarelo. Pois precisamos urgentemente perder a vergonha, recuperar nosso chão e pegar a nossa bandeira de volta. Já não temos tempo, os fascistas estão no poder, e se perderem a bandeira não têm mais nada.
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