
De tudo, o que sinto mais falta é do som das ambulâncias. Numa noite contei dezesseis. Eu não conseguia dormir e criei o hábito de procurá-las com os olhos. As facilidades de quem mora no vigésimo andar. Ia à janela e vasculhava ruas e avenidas. A cenografia urbana, com seus prédios, muros e vãos confunde a origem do ruído giratório das sirenes. Por isso, os olhos são fundamentais para identificar o vermelho intermitente em algum naco de concreto. Eu sinto falta.
Hoje, não importa o que esteja fazendo, quando ouço uma ambulância corro para encontrá-la. É bem mais difícil com a cidade em movimento, mas não posso fugir: é meu novo normal.
Não sei o que vou fazer quando o dinheiro acabar. Fui demitido ontem.
As chuvas já voltaram e eu sinto uma puta saudade das constelações de tuas sardas.
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