Dogging
Ao parque
Irás apenas de sobretudo
Sobre nada
Num gesto rápido
Soltarei o botão
E teus peitos intumescidos
Saltarão para a noite
Os mamilos
Regidos pelo frio
Apontarão duros
Para as árvores
Onde o vento
Produz gemidos
De suave prazer
Os dedos em frenesi
Toques e sustos
As sombras em movimento
Os pelos
Os paus
As mãos
Os lábios
E as pernas
Receptivas
Escorre a seiva
Látex
A boca leve
A língua lenta
Murmúrios,
O grito preso
Explode
Os pássaros em pavor
Misturam suas asas
Bolinam-se no ar
E suas silhuetas
Encobrem
O céu cinza
O Fio
A carne é leve
Quando
À carne toca
Elétrica
Ligeiro remoinho
Adentro
A carne leve
Quando
Toca a carne
Artérias
Adentro
O fio a conduzir-te
Adentro
A carne leve
À carne
Leve
Adentro
Elétrica Artéria
O fio a conduzir-te
O fio
A carne na carne
Leve
À
Uma Canção para a Lua
Surge a Lua,
Atrás das nuvens,
Seminua.
O seu corpo num corpete afogueado
Será sanha?
Será sonho?
Será sina?
Concubina do universo alardeado
Tu que vives em constante caravana
Outrora tão eterna e cultuada
Hoje, um contorno,
Mero adorno
À fauna urbana
Nos atice
Essa crendice,
Deusa vã, predestinada
Te desnuda,
Lua bela, Lua mansa
É nossa a dança
De te ver abandonada
Pelos olhos apressados,
Corriqueiros,
Dessa gente que tudo vê,
Mas não vê nada.
Lacuna criativa
Sento à mesa, é fim de tarde
As palavras sobem e descem na gangorra
Mas que merda, mas que saco, mas que porra
É essa de lacuna criativa que me encarde?
São Cirilo, padroeiro, me socorra
Que a fé em tua prece me resguarde
Justo eu, escritor, poeta e covarde
Com as sinapses mofando na masmorra
Só me resta, lacuna, elevar-te
Acima desta sanha iracunda
E fazer da reticência uma arte
Pois se não é esta ode a mais fecunda
Não posso usar como descarte
Como faz todo dia a minha bunda
Concupiscência
Graças a Deus que homossexualismo tem cura
Já estava receoso de levar a picadura
De uma agulha reluzente com o antídoto proposto
Pois que meu enredo aqui exposto
Não é mais que armadura
Pra um poeta libertino
Que vasculha, de menino,
Os segredos da nudez,
Os detalhes, as nuances, que
Num sopro, num relance
Nos retoma em altivez.
Eu que era hétero,
Mas já fui curado,
Me sinto, agora, aliviado
Com o elixir cicatrizante
Para curar a minha alma
Concupiscente,
Concupiscante.
Soneto do banho
Soca o caralho quando pica
Em lembranças gostosas de antanho
Das mãos deleitosas pelo banho
Cuja demora por si só se justifica
Das espumas de contato me acanho
De falar assim, na cara, em rima rica
Quando no tato minha xana lubrifica
E o cacete quadruplica de tamanho
O pau nervoso logo se arremete
Desejando o conforto em sua gruta
Faz de tudo, gira, pula, pinta o sete
No afã de consumar a doce luta
O vergalho vira tolo marionete
Da boceta namorada, esposa e puta
Amor, estranho Amor
Não me importo, Amor, com quem tu deitas
Nem se este é um verso de reuso
Se tu me deixas voraz, assaz confuso
A contemplar as formas mais perfeitas
O Tempo, no girar tenaz do parafuso,
Construiu certas suspeitas
Que a Deusa de infinitas seitas
Está, talvez, aberta a corpo intruso
Amada, por favor, não me condene
Por esta ode, assim, indelicada
Por amar-te incluso e tolerante
Sabes que meu amor é o mais perene
E que às vogais que emites saciada
Serei, para sempre, consoante
Minha Casa
O meu refúgio, minha pátria, minha casa
É este o cosmo onde minha triste alma habita
Onde cada célula fogosa se agita
Proporcionando à pele arder em viva brasa
É nela que meu coração ávido palpita
Onde a carne airosa e desvairada extravasa
E a língua lenta ou enlouquecida se desasa
E a minha casa em regozijo logo grita
Eu pressinto o cheiro do meu campo alagado
Trago o sabor vivaz passeando no palato
Como se numa realidade paralela
Estivesse todo este corpo amorrinhado
É só saudade, meu amor, eu sei, um vão recato
Pois inexiste neste plano outra mais bela
Depois do show de Sandra de Sá
Vai à farra a fada amada
Ela e as amigas. Roda...
Eu venho, digo, amada foda.
Eu e a migaloka endiabrada.
Nada, falo, me incomoda.
Nem o ferro, nem a ferrada
Nem a mina mais minada
Que quer te moldar à moda.
Ver a Sandra na noitada
Sá be lá se está vestida
Sei dos trâmites da aurora
Minha Amada é essa fada
Que me doma, divertida
E que me marca a toda hora
Há mote quando tu glosas
É bárbaro, Amada, quando tu gozas
Tu fluis a um universo imaginário
Tiras-me a capa de homem ordinário
E me deixas as asas melindrosas
Usufruo e gasto o tempo, perdulário
Dou-te o mote e respondes em mil glosas
Duas horas em gritarias prazerosas
Eu ainda desvendando o teu vocabulário
Os corpos em fadiga, enfim, se acalmam
Ouço teus suspiros em pré-sesta
Amo teu relevo em contraluz
Meus olhos te esquadrinham, te espalmam
A superfície tão perfeita, sem aresta
Só aquela que – tu sabes ! – me seduz
Borda de Catupiry
Olha bem quando te falo
Pois, se falo, falo duro
Sobre a mesa ou junto ao muro
Falo em tua boca, e te calo
Minhas mãos em tua nuca, no enduro
De ritmar o vaivém até o talo
Os teus lábios impolutos no regalo
De um saber soberano, mas impuro
A pizza esfriando, pobre presa,
Observa a cena pervertida
Tua cara engolindo meu caralho
O aroma – muçarela e calabresa –
Embala teu prazer em ser comida
Como o entregador está amando o seu trabalho
Commenti