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ondovato9

De Saliências e Reentrâncias

Atualizado: 22 de set. de 2021

























Dogging


Ao parque

Irás apenas de sobretudo

Sobre nada

Num gesto rápido

Soltarei o botão

E teus peitos intumescidos

Saltarão para a noite

Os mamilos

Regidos pelo frio

Apontarão duros

Para as árvores

Onde o vento

Produz gemidos

De suave prazer


Os dedos em frenesi

Toques e sustos

As sombras em movimento

Os pelos

Os paus

As mãos

Os lábios

E as pernas

Receptivas

Escorre a seiva

Látex

A boca leve

A língua lenta

Murmúrios,

O grito preso

Explode

Os pássaros em pavor

Misturam suas asas

Bolinam-se no ar

E suas silhuetas

Encobrem

O céu cinza





O Fio


A carne é leve

Quando

À carne toca

Elétrica

Ligeiro remoinho

Adentro

A carne leve

Quando

Toca a carne

Artérias

Adentro

O fio a conduzir-te

Adentro

A carne leve

À carne

Leve

Adentro

Elétrica Artéria

O fio a conduzir-te

O fio

A carne na carne

Leve

À



Uma Canção para a Lua

Surge a Lua,

Atrás das nuvens,

Seminua.

O seu corpo num corpete afogueado

Será sanha?

Será sonho?

Será sina?

Concubina do universo alardeado

Tu que vives em constante caravana

Outrora tão eterna e cultuada

Hoje, um contorno,

Mero adorno

À fauna urbana

Nos atice

Essa crendice,

Deusa vã, predestinada

Te desnuda,

Lua bela, Lua mansa

É nossa a dança

De te ver abandonada

Pelos olhos apressados,

Corriqueiros,

Dessa gente que tudo vê,

Mas não vê nada.





Lacuna criativa

Sento à mesa, é fim de tarde

As palavras sobem e descem na gangorra

Mas que merda, mas que saco, mas que porra

É essa de lacuna criativa que me encarde?

São Cirilo, padroeiro, me socorra

Que a fé em tua prece me resguarde

Justo eu, escritor, poeta e covarde

Com as sinapses mofando na masmorra

Só me resta, lacuna, elevar-te

Acima desta sanha iracunda

E fazer da reticência uma arte

Pois se não é esta ode a mais fecunda

Não posso usar como descarte

Como faz todo dia a minha bunda






Concupiscência

Graças a Deus que homossexualismo tem cura

Já estava receoso de levar a picadura

De uma agulha reluzente com o antídoto proposto

Pois que meu enredo aqui exposto

Não é mais que armadura

Pra um poeta libertino

Que vasculha, de menino,

Os segredos da nudez,

Os detalhes, as nuances, que

Num sopro, num relance

Nos retoma em altivez.

Eu que era hétero,

Mas já fui curado,

Me sinto, agora, aliviado

Com o elixir cicatrizante

Para curar a minha alma

Concupiscente,

Concupiscante.






Soneto do banho

Soca o caralho quando pica

Em lembranças gostosas de antanho

Das mãos deleitosas pelo banho

Cuja demora por si só se justifica

Das espumas de contato me acanho

De falar assim, na cara, em rima rica

Quando no tato minha xana lubrifica

E o cacete quadruplica de tamanho

O pau nervoso logo se arremete

Desejando o conforto em sua gruta

Faz de tudo, gira, pula, pinta o sete

No afã de consumar a doce luta

O vergalho vira tolo marionete

Da boceta namorada, esposa e puta






Amor, estranho Amor

Não me importo, Amor, com quem tu deitas

Nem se este é um verso de reuso

Se tu me deixas voraz, assaz confuso

A contemplar as formas mais perfeitas

O Tempo, no girar tenaz do parafuso,

Construiu certas suspeitas

Que a Deusa de infinitas seitas

Está, talvez, aberta a corpo intruso

Amada, por favor, não me condene

Por esta ode, assim, indelicada

Por amar-te incluso e tolerante

Sabes que meu amor é o mais perene

E que às vogais que emites saciada

Serei, para sempre, consoante






Minha Casa

O meu refúgio, minha pátria, minha casa

É este o cosmo onde minha triste alma habita

Onde cada célula fogosa se agita

Proporcionando à pele arder em viva brasa

É nela que meu coração ávido palpita

Onde a carne airosa e desvairada extravasa

E a língua lenta ou enlouquecida se desasa

E a minha casa em regozijo logo grita

Eu pressinto o cheiro do meu campo alagado

Trago o sabor vivaz passeando no palato

Como se numa realidade paralela

Estivesse todo este corpo amorrinhado

É só saudade, meu amor, eu sei, um vão recato

Pois inexiste neste plano outra mais bela






Depois do show de Sandra de Sá


Vai à farra a fada amada

Ela e as amigas. Roda...

Eu venho, digo, amada foda.

Eu e a migaloka endiabrada.

Nada, falo, me incomoda.

Nem o ferro, nem a ferrada

Nem a mina mais minada

Que quer te moldar à moda.

Ver a Sandra na noitada

Sá be lá se está vestida

Sei dos trâmites da aurora

Minha Amada é essa fada

Que me doma, divertida

E que me marca a toda hora






Há mote quando tu glosas


É bárbaro, Amada, quando tu gozas

Tu fluis a um universo imaginário

Tiras-me a capa de homem ordinário

E me deixas as asas melindrosas

Usufruo e gasto o tempo, perdulário

Dou-te o mote e respondes em mil glosas

Duas horas em gritarias prazerosas

Eu ainda desvendando o teu vocabulário

Os corpos em fadiga, enfim, se acalmam

Ouço teus suspiros em pré-sesta

Amo teu relevo em contraluz

Meus olhos te esquadrinham, te espalmam

A superfície tão perfeita, sem aresta

Só aquela que – tu sabes ! – me seduz






Borda de Catupiry

Olha bem quando te falo

Pois, se falo, falo duro

Sobre a mesa ou junto ao muro

Falo em tua boca, e te calo

Minhas mãos em tua nuca, no enduro

De ritmar o vaivém até o talo

Os teus lábios impolutos no regalo

De um saber soberano, mas impuro

A pizza esfriando, pobre presa,

Observa a cena pervertida

Tua cara engolindo meu caralho

O aroma – muçarela e calabresa –

Embala teu prazer em ser comida

Como o entregador está amando o seu trabalho

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